
Eu gosto de pensar
que somos eternos. Para sempre. Infinitos. Em nossos abraços. Em nossos risos.
Em nossos olhares. Mesmo que a maioria das pessoas diga ser impossível. Mesmo
que a ciência tenha provas de ser inviável. Eu prefiro pensar assim. Sentir... Começou
há mais de mil dias atrás. Não saberia contar ao certo e isso não importaria
nem para mim que escrevo, nem para vocês que leem esse texto agora. Eu tinha
vinte e um anos. Quase vinte e dois. Parece que foi ontem. Parece. Ainda ontem
– ontem mesmo – eu e um amigo comentávamos a fala de uma professora que em
algum daqueles dias do primeiro semestre disse que seria como “um piscar de
olhos”. Foi. Hoje, enquanto escrevo esse texto, o tom é de despedida. Há em
todo e qualquer canto da UNESP que eu passe alguma coisa pra ser lembrada e me
fazer sentir saudade. E embora eu fique aqui um tempo que ainda não posso
determinar, sou obrigada a me despedir da maioria dos amigos e conhecidos que
fiz durante esses quatro anos. Alguns voltam para a sua cidade. Outros
permanecem por aqui. Ou não muito longe. A questão é que não nos veremos mais
durante cinco ou ao menos um dia na semana. Eu nunca fui fã de despedidas. Acho
que ninguém é. Começou lá na infância quando meu pai vinha nos finais de semana
e logo tinha que ir embora. Eu era uma criança e não entendia direito, mas ele
sempre voltava, então tudo bem. Até que teve um dia que ele se despediu de mim
na infância e só me reencontrou na adolescência. Desde então eu sinto uma
espécie de medo de que as pessoas demorem muito para voltar. Só que entendo que
elas têm que ir. Amanhã ou depois, as pessoas sempre vão. E daqui alguns dias,
nós vamos embora. Cada amigo que vai, leva um pouco de mim e de outros amigos.
Até que daqui algumas semanas, meses ou no máximo (três, quatro anos) ninguém
se lembre mais – ou se lembre muito pouco – da Turma 53 de Letras. Só que nós
estivemos aqui. Estivemos aqui com nossos sonhos. Dando os primeiros passos
para a vida adulta. Estivemos aqui com nossos risos e lágrimas. E tivemos
nossos professores. E encontramos nossos amigos. Teve a Eliane com aquele ar de
mãe. Teve o Cadu com aquele ar de pai. Teve o Paulo com aquele ar de poeta.
Poeta mesmo, sabe? Uma poesia viva nas aulas, nos corredores. Teve Bene. Teve
Benes para todos. Aquele professor que a gente sente que tem que estudar de
verdade. Teve Jorge que é um dos melhores professores pra você conversar depois
da aula. Teve Marco Antonio e Marcio se deixando levar pelo bom humor da
Paulinha. Teve Luciane pra me fazer acreditar um pouco mais em mim. Quatro anos. Umas dezenas de professores. E os amigos. Não sei quanto
cresci nesse sentido durante esse tempo. Cresci com eles, amadureci com eles.
Tivemos nossos dias bons e dias ruins. Com certeza os bons foram em maior
quantidade. Teve churrasco. Teve dias e mais dias no bar. Teve festas. Ressacas. Histórias pra contar. Histórias pra rir da cara dos amigos. Principalmente do Luiz. Teve um
dia ainda no começo do primeiro ano que de repente me dei conversando com um
menino de sorriso fácil. Bruno. O meu melhor sorriso, o meu melhor abraço, o
meu melhor companheiro. A minha melhor parte da UNESP. Teve um dia no bar onde
foi organizada uma comissão de formatura e com isso teve aquela sensação de
quando eu ainda era criança ou adolescente e fazia parte do Grêmio Estudantil
ou de algo parecido dentro do colégio. Teve uma vontade – que mesmo após tantos
problemas – não morreu. Uma vontade de fazer com que a formatura seja realizada
e que o curso de Letras nunca mais seja o mesmo. Um passo de cada vez resultou
num número considerável de gente que vem quase sempre me perguntar quando será
a próxima festa. E aí sorrio. Apenas sorrio. Daqui algumas semanas quando eu
voltar pra essa faculdade e não tiver mais Tata, May, Dan, Paulinha, Luiz,
Marcos, Rakelly, Peitl, Victor, Lucas, Natalia, Faccioli, Sarah e alguns outros, eu
volto pela gratidão. A UNESP me deu novos amigos, novos pensamentos, um emprego
que me mostrou um dom que não sabia existir, uma comissão de formatura que me
fez enxergar algo que gosto e sou capaz de realizar. Volto pela gratidão dos
amores que senti por aqui. Mesmo que tenham passado, não foram e nem serão
esquecidos Volto pela gratidão e pra fazer valer a pena toda força que dois
amigos (Bruna e Acauã) me deram há tantos e tantos dias atrás. Volto pela
gratidão que tenho a Deus. O que fica como certeza após quatro anos e alguns
meses é que nada nessa vida é por acaso. Eu tinha que estar aqui em 2011 e não
em 2007 ou todos os anos que se seguiram até chegar o momento certo. Eu tinha
que conhecer cada uma dessas pessoas que conheci. Eu tinha que amar cada uma
delas pra que pudesse amar esse lugar. Esse lugar que só pode ser amado de
verdade se ao colocar os pés aqui, você se entrega a ele e as histórias que ele
pode te proporcionar contar mais tarde. E então resta um pedido, um pedido de
alguém que escreve porque sabe que as palavras não saem tão fácil se faladas.
Um pedido aos amigos: que nós sejamos eternos. Que nós possamos nos reencontrar
para sempre. Infinitos em nossos abraços. Em nossos risos. Em nossos olhares.
Mesmo que a maioria das pessoas diga ser impossível. Mesmo que a ciência tenha
provas de ser inviável. Eu gosto de pensar que podemos sim ser eternos.
Por Camila Aguilera